Thursday, August 31, 2006

Deadline

Chegou hoje, 31 de agosto de 2006, finalmente, o deadline, a "linha morta", o prazo final dado pelo CS da ONU, através da Resolução 1696, ao Irã para que abandone seu programa de enriquecimento e conversão de urânio sob pena de sanções (não explicitadas).

O ambiente é propício para mais um aperto, pelo W+ (o grupo, essenciamente fluido, de países ocidentais importantes, isto é, aqueles que são percebidos como potências no sistema mundial, e seus como que congêneres de longitudes diversas), no parafuso de suplício medieval que vem torturando os crânios das autoridades iranianas.

Elas, as autoridades do Irã, dizem que não se incomodam, que o seu regime de Alá é inteiramente soberano, que não se curva a pressões e coisas que tais: pura bazófia! O problema está o tempo todo em suas mentes, sendo avaliado de várias formas, nenhuma, infelizmente, fundamentada na objetiva razão lógica do próprio interesse da população iraniana como um todo; lógica objetiva essa, aliás, jogada no lixo pela ótica messiânica sobrenatural dos aiatolás e de seus ajudantes totalitários.
Na realidade, nada, desde a surrealisata revolução islâmica iraniana de 1979 que alijou Reza Pahlevi do trono, concentrou tanto os corações e mentes das autoridades de Teerã (com exceção da guerra contra o Iraque) que a presente repulsão das W+ contra a ambição do país dos aiatolás de possuir armas nucleares
O presidente Ahmadinejad tornou claro que não se comprometeria no deadline. Disse: "A nação iraniana não sucumbirá à intimidação, à invasão e à violação de seus direitos".
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã descartou a possibilidade de sanções, afirmando na televisão estatal que: "... encontraremos uma forma de finalmente evitar a pressão".
O prazo final foi amplamente lembrado nas manchetes dos principais jornais do país, que teceram variadas considerações sobre o tema.
Washington mantém aberta a possibilidade de agir, com seus aliados, em via própria, fora do caminho traçado pelo CS, e de aplicação de penalidades particulares contra o Irã. (É um dado alvissareiro, considerando a volatilidade do CS.)
Em um discurso dedicado principalmente a questões locais, Ahmadinejad declarou que os inimigos do país estavam tentando fomentar diferenças entre o povo iraniano, mas "Eu lhes digo: vocês estão errados. A nação iraniana está unida."
"Eles dizem apoiar a liberdade, mas apóiam os governos mais tirânicos no mundo, em busca de seus próprios interesses," disse, referindo-se aos EUA.
Continuou: "Eles falam em direitos humanos, mas mantêm as prisões mais notórias. Essas potências que não se atêm às leis de Deus e seguem o mal são a fonte principal de todos os atuais problemas da humanidade."
Essas palavras do presidente do Irã bastam para expor o grau de afastamento da realidade em que vivem os líderes do país.
A recusa iraniana de acatar a exigência do CS de interromper o enriquecimento de urânio será detalhada em um relatório confidencial à AIEA, a ser completado hoje e entregue ao CS. É provável que isso provoque - pelo meio de setembro - a reação dos membros do Conselho de Segurança de começar a considerar sanções econômicas ou políticas.
O Departamento de Estado não disse publicamente o que pretende fazer. Mas autoridades européias e americanas indicaram que podem pressionar pela imposição de restrições de viagens às autoridades iranianas ou de proibiçâo de venda de tecnologia de duplo uso ao Irã.
A tática é de começar com punições relativamente brandas, numa tentativa de conseguir o apoio russo e chinês, disseram funcionários.
Ação mais radical seria o congelamento de ativos iranianos ou uma proibição comercial mais abrangente - se bem que seria forte a oposição a essa alternativa pela Rússia, pela China e por outros países, particularmente porque poderia cortar exportações iranianas de petróleo, de que necessitam muito.
A Rússia e a China devem, provavelmente, resistir aos esforços liderados pelo EUA em prol de uma resposta rápida, cuja conseqüência pode ser uma certa demora no estabelecimento das sanções. Essa possibilidade levou o governo Bush a tentar atrair e convencer aliados a criar sanções comerciais ou restrições financeiras, ou ambas, de sua própria lavra, independentemente do Conselho de Segurança da ONU.
Teerã insiste em que seu único objetivo no esforço de enriquecer urânio se baseia no seu emprego na geração de energia elétrica em usinas nucleares civis. Todavia, os EUA e outros países ocidentais e assemelhados, ou seja, os W+, suspeitam que o Irã deseja utilizar o urânio enriquecido em ogivas nucleares.
(O fato, a realidade fria e objetiva é que o Irã vem administrando um programa nuclear clandestino havia já 18 anos, até ser descoberto em 2003 pela agência de vigilância nuclear da ONU sediada em Viena, a Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA. É de notar que o Irã é signatário do TNP.)
O ministro das relações exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, explicitou suas suspeitas de que o Irã está à procura de armas nucleares, e disse que os governos árabes também estão preocupados com as ambições de Teerã.
"No momento, o Irã não tem qualquer emprego para o urânio enriquecido, a não ser que esteja planejando construir a bomba," disse Steinmeier na edição de hoje do Bild. Ele também criticou o governo iraniano por "... tentar se fazer passar por líder do mundo islâmico. Apesar disso, seus vizinhos árabes, também islâmicos, compartilham nossa preocupação acerca do assunto e nossa rejeição a um Irã com armas nucleares."
Os 6 (os 5 membros permanentes do CS mais a Alemanha) ofereceram ao Irã, algum tempo atrás neste verão do Hemisfério Norte, um pacote de incentivos em troca do compromisso de Teerã de congelar o programa de enriquecimento de urânio, para que as conversações pudessem ter início. Mas a resposta de Teerã a 22 deste mês deixou claro que o país não deseja suspender seu esforço nuclear antes do término das "sérias" negociações que sugeriu.
Sábado passado, Ahmadinejad inaugurou nova fase de um projeto se reator de água pesada em Arak; tal tipo de usina produz plutônio, que também pode ser empregado na fabricação da bomba atômica, outra matéria-prima sendo o urânio com alto grau de enriquecimento.
Observadores dessa questão dizem que a atitude iraniana teve a intenção de mandar um sinal de desafio, antes do escoamento do prazo concedido pelo Conselho de Segurança.
Na inauguração da planta de água pesada Ahmadinejad disse outra vez que o Irã nunca abandonaria seu programa nuclear, mas que seu objetivo não eram armas atômicas.
A novela continua...
O mundo espera atitude decisiva dos EUA e das outras potências comprometidas com a manutenção da segurança global e da civilização como compreendida, grosso modo, pelos membros do definido W+, mesmo à revelia de alguns, como China e Rússia. Estes dois países estão, como tantas vezes estiveram, muito mais preocupados com seus próprios umbigos do que com questão de tamanha importância: a China desesperada por petróleo, de qualquer lugar que possa vir, para tentar manter seus assombrosos índices de crescimento do PIB (insustentáveis); a Rússia, sob o regime enérgico e semiditatorial de Putin, por motivos parecidos e comerciais, a par de seu atual sonho de noite de verão de voltar a ser uma superpotência (o que, com efeito, nunca chegou a ser: tratava-se mais de uma ilusão de ótica).
Nesse caso, certamente os EUA deverão, para ações retaliatórias mais rápidas e assertivas, se ligar firmemente ao chamado EU3 (Alemanha, França e Reino Unido).

Monday, August 28, 2006

Irã: Hora de Decidir

Como vimos, a vitória inconteste, apesar dos percalços iniciais, da recente luta no Líbano entre Israel e o Hezbollah coube a Israel (ver A Vitória Escondida).

Em entrevista ontem, 27 de agosto, a uma TV libanesa Hassan Nasrallah, o chefe do Hezbollah, afirmou que "Se tivéssemos sabido que o seqüestro dos soldados teria levado a isto, nós definitivamente não o teríamos realizado". Acrescentou que nenhuma das partes "se encaminhava para uma segunda rodada" do conflito. Prosseguiu Nasrallah: "Nós não pensávamos que houvesse uma chance de 1% de que o seqüestro levasse a uma guerra desta escala e magnitude".
"Agora você me pergunta, se agora fosse 11 de julho e houvesse uma possibilidade de 1% de que o rapto levaria a uma guerra como a que aconteceu, você levaria em frente o seqüestro?"
"Eu diria não, definitivamente não, por razões humanitárias, morais, sociais, de segurança, militares e políticas".
Nem eu, nem o Hezbollah, nem os prisioneiros nas cadeias israelenses e nem as famílias dos prisioneiros aceitaríamos isso".
Seria difícil uma confissão mais cabal e detalhada da enorme derrota militar, estratégica, moral e política (esta a emergir em plena força dentro de algum tempo, quando a decantação se completar) do Hezbollah e de seus aliados externos, o Irã e a Síria.
Ora, o Irã já está metido em graves complicaçôes com as potências ocidentais e as de inclinações político-social-econômicas convergentes, digamos as W+, relativamente à sua política nuclear em curso.
A continuação dessa política de enriquecimento de urânio é inaceitável, totalmente intolerável para as W+. Penso que corretamente.
Uma linha deve ser riscada no chão e as W+ devem pura e simplesmente dizer: "Daquí ninguém passa". Sob qualquer custo.
Pode até parecer injusto, mas é o que tem que ser. Especialmente com regimes do tipo rogue como os do Irã e da Coréia do Norte. Mas, realmente, ninguém mais deve ter, sim, a permissão de entrar no já inflado clube nuclear, sob pena do Armagedon. Esta tem que ser a cláusula pétrea das W+. A base de sua diplomacia sobre o assunto.
Os 5+1 já se manifestaram em relação ao Irã; receberam sua resposta tardia, e evasiva, procrastinadora, a 22 de agosto.
O CS já deu ao Irã o prazo até 31 de agosto, três dias à frente, para que o Irã abandone seu programa nuclear, oferecendo incentivos e ameaçando sanções, estas não descritas.
Assim, a derrota do Hezbollah, significando também o enfraquecimento da doutrina radical do Irã, apresenta às W+ a auspiciosa oportunidade de, pelo exercício de pressão igual, aumentar seu efeito coercitivo sobre o governo iraniano no sentido de levá-lo a decidir, sob pressão intensa, se coopera ou colide com o resto do mundo, como entendido pelas W+.
Se o Irã decidir cooperar, o mundo se desanuvia e melhora em todos os apectos; se optar por continuar a colidir, qualquer ação de força inteligente proveniente das W+ (ou até de um só membro), mesmo de ordem militar, por exemplo um abrupto fait-accompli de um só golpe preciso, com exceção da invasão do Irã, será válida. (Pense-se no ataque ao reator Osirak.)

Até mesmo a atitude extrema acima sugerida será melhor que a procrastinação; tenderá, a médio prazo a melhorar o cenário do sistema internacional de Estados. O tresloucado governo iraniano ficará inicialmente aturdido e, em seguida, não saberá o que fazer, qual baratas tontas após a primeira fumigada do inseticida. E o incentivo à razão terá sido dado na única linguagem que é capaz de compreender: a do poder e da força.
A aproximação do prazo final do CS impõe às W+ e aos 5+1 (que se interpenetram de maneira fluida) atuação decisiva no tocante ao problema iraniano.

Sunday, August 27, 2006

A Vitória Escondida

É voz corrente nos comentários da mídia internacional que o Hezbollah foi vitorioso no recente confronto militar (e político) com Israel.

De fato, só se lê e se ouve e vê que o Hezbollah ascendeu como força política no Oriente Médio e que sua milícia deu uma lição de força, inteligência, capacidade, disciplina, organização e estratégia às IDF. E que, para contrabalançar, Israel decaiu politicamente e foi humilhado militarmente.
Em suma, que Israel perdeu a batalha político-militar recém-"finda" pela aceitação da Resolução pertinente do Conselho de Segurança pelos beligerantes, Israel e Hezbollah (como se o "Partido de Deus" fosse um Estado participante da ONU).

(Realmente, deve ser reconhecido que o Hezbollah parece ter sido um inimigo muito mais resiliente, forte e capaz do que esperavam as forças israelenses; e muito melhor armado. Essa percepção foi de todos, inclusive de Israel e, mesmo, segundo várias declarações de porta-vozes, de suas forças armadas e estrategistas militares.)

Quanto à impressão de que Israel perdeu a guerra, ela não pode deixar de ser falsa, por ilógica, apesar da quase unanimidade nesse sentido de toda a imprensa internacional (na verdade, não conseguí ler nada contra essa suposição errada): desde os jornais árabes do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita (estes, claro,oficiosos) até a crême de la crême dos jornais e revistas ocidentais, japoneses, russos, sul-coreanos, incluindo os de Israel...

Ela é, com efeito, uma percepção absolutamente equivocada, desprovida de fundamento lógico.
Ora, essa avaliação negativa equivaleria a dizer que Israel teria invadido o sul do Líbano e atacado o Hezbollah impensadamente, como um touro bravio, em conseqüência das escaramuças fronteiriças provocadas pelo Hezbollah e que culminaram na morte de oito soldados israelenses e no seqüestro de outros dois.
Ao contrário, Israel atacou sim, mas de caso bem pensado. É claro que esse motivo alegado para o golpe israelense não passou de mero pretexto para Israel, aguardado com atenção, ansiosamente.
Os planos (com muitos defeitos, segundo vários estrategistas militares israelenses, principalmente relativos à escolha quase total da guerra aérea) bélicos estavem prontos, os alvos escolhidos, a estratégia e as táticas delineadas. Não poderia ser de outra forma: não é possível lançar um ataque de tamanha envergadura da noite para o dia.
O ataque rompeu como um raio em céu azul: de repente, totalmente inesperado por todos os observadores, avassalador. Logo nos primeiros dias até o aeroporto de Beirute foi atacado pela aviação militar de Israel. Os observadores árabes, e mesmo de todo o mundo, consideraram a retaliação do Estado judeu "desproporcional", irrazoável (como se existisse alguma norma internacional de proporcionalidade e de razoabilidade na guerra, padrão que, de resto, teria sido, como sempre foi, de qualquer maneira desprezado pelo Hezbollah, que não representa qualquer Estado do planeta).

O segundo homem na hierarquia do Hezbollah confessou aos jornalistas, logo no início da "guerra", que o ataque fora "inesperado". Declaração que não foi surpreendente, dado o imbroglio israelense em outra frente, na Faixa de Gaza (por que ousaria Israel, por motivos iguais, agir de forma mais assertiva, criar outro problema muito maior em outro flanco?). Disse o representante da milícia que o normal seria haver negociações, comuns em outra ocasiões semelhantes, com interveniência de outros Estados, como, por exemplo, a Alemanha, em caso recente de troca de reféns.
Se ele declarou isso é porque Hassan Nasrallah também foi surpreendido pela virulência, pela instantaneidade, qual o bote de uma serpente, do ataque de Israel.
(A propósito, algumas horas depois de terminar de redigir completamente este texto, ví por acaso, hoje, 27 de agosto, na BBC, no que considero coincidência espantosa, afirmação do capo da organização, do próprio Nasrallah, de que jamais teria concordado com a violação da fronteira e o seqüestro dos soldados de Israel se imaginasse o tamanho da reação de Israel. Faço aqui e agora a inserção desse fato, que corrobora plenamente o relato acima referido de seu lugar-tenente.)

Logo, o Hezbollah, estupefato, foi apanhado na mais completa surpresa; e os israelenses se aproveitaram ao máximo dessa surpresa, é elementar e evidente.
Assim, dificilmente as conseqüências militares dessa surpresa deixariam de provocar resultados impactantes: bons para Israel, deletérios para o Hezbollah. (Ainda mais levando em conta a reconhecida excelência e nível de preparo da máquina militar do Estado judeu, a par da qualidade de seus serviços de inteligência.)
Esses resultados ocorreram.
Fazem agora parte da história.
É impossível o retorno ao status quo ante.
Pode ser dito, portanto: "Alea jacta est".

Tanto é assim que, ao contrário do que todos esperavam, o Hezbollah aceitou de pronto os termos da Resolução do CS que deu "fim" ao conflito, e que exige a remoção da milícia xiita da faixa conflagrada, a ser substituída pelo exército libanês e tropas internacionais sob a égide da ONU (prevendo inclusive o desarmamento do Hezbollah pelo exército do Líbano: fantasia pura, creio).
E a concordância da milícia xiita libanesa aconteceu, espantosamente, a despeito da reafirmação peremptória de Israel de que só removeria suas tropas do conturbado Sul do Líbano após o posicionamento dos 15 000 mantenedores da paz da ONU no local, e apesar da assertiva da milícia islâmica do "Partido de Deus" de que só cessaria seus atos de agressão depois que as tropas israelenses se retirassem do Líbano.
(Os soldados de Israel ainda hoje permanecem no terreno.)
Dessa forma, apesar de sua retórica incendiária, o Hezbollah curvou-se, ou, por outra, foi forçado a se dobrar aos imperativos das razões táticas e estratégicas que lhe foram, apesar de tudo, impostas pela ação militar desencadeada por Israel, que conformou realidade objetiva bem diversa da pré-existente. Nova realidade objetiva muito menos complacente aos desígnios do Hezbollah, quaisquer que sejam.
Qual era o objetivo principal de Israel ao deflagrar o conflito? Isso só seus estrategistas militares e políticos sabem. Mas pode-se imaginar com boa dose de certeza que residisse na remoção dos milicianos da faixa de terra entre a fronteira de Israel e o rio Litani. Isso, tudo indica, Israel conseguiu (e, agora, com ajuda internacional).
Qual seu segundo objetivo? Também pode-se, razoavelmente, especular que seria a redução drástica do poder de fogo do braço armado do Hezbollah, pelo menos por alguns anos: o que as evidências apontam como realizado.
Afinal de contas, milhares de toneladas de bombas de alta potência explosiva projetadas sobre alvos do Hezbollah, guiadas por tecnologia de ponta, não são, absolutamente, inócuas: seguramente ocasionaram tremenda destruição nas instalações e hostes inimigas, além da devastação sofrida pela população civil inocente e pela infra-estrutura libanesas).

Qual era, e continua sendo, o principal objetivo do Hezbollah na guerra que Israel lhe impôs? Escapar da melhor maneira possível ao ataque em curso e, sendo viável, contra-atacar, recuperar posições perdidas e infligir perdas máximas ao invasor atacante.
Mas, quem é golpeado e não tem poder material para o contragolpe corretivo, como é o caso do Hezbollah, não opera com objetivos estratégicos pré-existentes (existiam? Fora jogar os israelenses no mar, não se sabe). Estes simplesmente desapareceram.
Agora a estratégia do "Partido de Alá" é meramente sobreviver.
É o processo que vem ocorrendo no momento no Líbano, por trás das análises dos pundits.

Então, ao contrário do que apregoa a mais sofisticada mídia global, se houve um "vencedor" foi Israel; jamais o Hezbollah.

E sobreviverá o Hezbollah? Certamente que sim, mas em situação muito mais precária do que a que tinha antes.

Thursday, August 24, 2006

A indefinição continua

Os Estados Unidos decidiram ontem, 23 de agosto, que a resposta iraniana à proposta das 6 grandes potências era insuficiente, por não preencher as condições colocadas pelo Conselho de Segurança de suspensão completa e verificável de todas as atividades relativas ao enriquecimento e à conversão de urânio, declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Gonzalo Gallegos.
O porta-voz acrescentou que Washington mantinha consultas estreitas com seus parceiros a respeito dos próximos passos.O ministro francês das Relações Exteriores, Philippe Douste-Blazy, indicou que o documento iraniano era muito longo e complexo
O Conselho de Segurança fixou em 31 de agosto próximo a data-limite para a suspensão pelo Irã das suas atividades de enriquecimento de urânio. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, conferenciou com Javier Solana, o negociador europeu, enquanto Kofi Annan telefonou a Bush. O secretário geral da ONU inicia um périplo na região, que poderá levá-lo a Beirute, Jerusalém, Damasco e Teerã.
A reação de Washington coincidiu com a publicação de um relatório de Comissão da Câmara dos Deputados (House of Representatives) sobre a "ameaça" que o Irã sustenta sobre os Estados Unidos e Israel. A Comissão considera primordial, antes de qualquer decisão da ONU, a avaliação das intenções do Irã a respeito de um eventual acordo. Ela gostaria, por exemplo, de saber se o Irã poderia se aproveitar da capacidade limitada de enriquecimento proposta pelos europeus como aceitável para prosseguir em seu programa de armamento.
Esta avaliação determinará se, no fim das contas, os Estados Unidos poderão fazer parte de um acordo diplomático, preconiza o relatório.
Segundo a Comissão, um certo número de "informações cruciais" não aparecem nos relatórios até agora feitos, notadamente a avaliação oficial de 2005 ou a declaração do diretor de informações, John Negroponte, em fevereiro, que situava a ameaça da bomba iraniana para cinco a dez anos. "É particularmente preocupante constatar que existem lacunas importantes em nosso conhecimento dos programas nucleares, bilógicos e químicos do Irã", indica o documento.
A Comissão considera "provável" que as intenções do Irã não se limitem à utilização pacífica da pesquisa nuclear, mas nã excluem que Teerã possa estar engajada em uma "campanha visando a exagerar seus progressos no domínio da tecnologia nuclear, como Saddam Hussein aparentemente fez relativamente às armas de destruição em massa".
Em Teerã, onde um porta-voz reiterou que a resposta iraniana "continha elementos positivos" para o Ocidente, a agência de informações Mehr anunciava, quarta-feira, que o Irã revelaria nos próximos dias um "grande sucesso" obtido por seus cientistas nucleares.

Wednesday, August 23, 2006

Ainda sem divulgação

A propalada resposta do Irã aos 5+1 que tanto tem gerado interpretações na mídia global desde anteontem ainda é uma incógnita, dado que o texto, se é que de fato existe mesmo, não foi divulgado. (O Irã havia dito que no dia 22 de agosto, ontem, divulgaria sua resposta ao pacote proposto pelos 6 sobre o impasse nuclear gerado pelo programa de enriquecimento de urânio encetado pelo regime islâmico.)

A mídia iraniana o que diz é que Larijani, o principal negociador nuclear, vai entregar a resposta do Irã às embaixadas dos 5+1.

O Ministério das Relações Exteriores do país muçulmano afirma que Larijani estará pronto para iniciar negociações "sérias" sobre a questão sensível a partir do dia 23, ou seja, de hoje.
Trocado em miúdos, parece que a enrolação iraniana continua...

Falta apenas uma semana para o "prazo final" de 31 de agosto...

Tuesday, August 22, 2006

Ainda o Irã

Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China) e a Alemanha propuseram ao Irã um pacote de incentivos/punições para que o país dos aiatolás abandonasse o processo de enriquecimento de urânio que vinha desenvolvendo a algum tempo e que muito incomodava à AIEA e às potências referidas.
O Irã imprecou contra a proposta. Deblaterou, xingou, acusou. As potências e a Agência não teriam o direito de se imiscuir em seus assuntos internos. O Irã, governado pelos próprios representantes de Deus na Terra, por Sua vontade, não se curvaria a humilhações impostas pelos caninos satãs ocidentais e não ocidentais, pelos abomináveis infiéis marginais ao maravilhoso, sublime Islã, que, ele sim, é perfeito e não erra jamais. Disse que jamais responderia a essa infâmia de cachorros.
O tempo foi passando. A pressão sobre o regime divino aumentando. Houve o ataque israelense ao Hezbollah, filho dileto e braço armado avançado dos aiatolás. A pressão externa apertando cada vez mais. O ultimato ao regime celestial, representado pela Resolução do Conselho de Segurança da ONU, embora mitigado por não relacionar as sanções, foi lançado, com prazo até 31 de agosto.
O Irã como que se suavizou um pouquinho: disse que estava em seus planos dar uma resposta ao pacote inicial em 22 de agosto, que hoje chegou.
A mídia informa que a resposta foi dada pelo Irã, que confirma, falando grosso e deixando perceber que será negativa, desprezando o conteúdo do pacote.
Nada sei ainda. Não consegui até agora o texto iraniano. Vamos ver como será.
O prazo até o dia 31 se aproxima velozmente.

Wednesday, August 09, 2006

O Irã, a Bomba e o Mundo (IV)

O desafio da negociação iraniana é muito mais complexo. Por dois anos antes da abertura para a China,os dois lados se engajaram em ações sutis, recíprocas, simbólicas e diplomáticas para deixar transparecer suas intenções. No processo, elas tacitamente chegaram a uma compreensão paralela da situação internacional, e a China optou por buscar viver em um mundo cooperativo.
Nada como isso ocorreu entre o Irã e os Estados Unidos. Não existe nem mesmo aproximação de visão comparável do mundo. O Irã reagiu à oferta americana de entrar em negociações com insultos, e inflamou as tensões na região. Mesmo que os ataques do Hezbollah a Israel a partir do Líbano não tenham sido planejados em Teerã, não teriam acontecido se seus perpetradores os considerassem inconsistentes com a estratégia iraniana. Em suma, o Irã ainda não fez a escolha do mundo que deseja, ou fez a escolha errada do ponto de vista da estabilidade internacional. A crise no Líbano poderia marcar um divisor de águas se puder cravar um sentido de urgência na diplomacia dos Seis e uma nota de realismo nas atitudes em Teerã. Até agora o Irã tem jogado por tempo. Os mulás aparentemete procuram acumular tanta aptidão nuclear quanto seja possível, de maneira que, mesmo que chegassem a suspender o enriquecimento de urânio, ficassem em uma posição de empregar a ameaça de recomeçar seus esforços de se armarem nuclearmente como um meio de sublinhar sua influência na região.
Dada a velocidade da tecnologia, a paciência pode facilmente se transformar em evasão. Os Seis terão que decidir quão sérios serão em insistir em suas convicções. Especificamente, os Seis terão que estar preparados para agir decisivamente antes que o processo da tecnologia torne o objetivo de parar o enriquecimento de urânio irrelevante. Bem antes de esse ponto ser atingido, terá que haver acordo sobre as sanções. Para serem efetivas, terão que ser abrangentes; medidas simbólicas, de meia sola, associam as desvantagens de todo curso de ação. As consultas interaliadas devem evitar a hesitação que a Liga das Nações deixou ser percebida em relação à Abissínia. As negociações com a Coréia do Norte devem ensinar aos Estados Unidos, e aos Seis como um todo, que um processo envolvendo longas pausas para o assentamento das disputas internas à administração e ao grupo negociador, enquanto o outro lado incrementa seu potencial nuclear, tem que ser evitado a todo custo.
Há igual necessidade, da parte dos parceiros dos Estados Unidos, de decisões que os permitam perseguir uma via paralela.
A suspensão do enriquecimento de urânio não deveria ser o fim do processo. Um próximo passo poderia ser a elaboração de um sistema global de enriquecimento de urânio em centros escolhidos ao redor do mundo, sob controle internacional - como foi proposto para o Irã pela Rússia. Isso amainaria as implicações de discriminação contra o Irã e estabeleceria um padrão para o desenvolvimento da energia nuclear sem que ocorra uma crise a cada vez que aparece um novo aspirante à tecnologia nuclear.
O presidente Bush anunciou o desejo dos Estados Unidos de participar das discussões dos Seis com o Irã para evitar a emergência de um programa iraniano de armas nucleares. Mas não será possível erigir um muro entre as negociações nucleares e uma revisão crítica abrangente das relações globais do Irã com o resto do mundo.
O legado da crise dos reféns, as décadas de isolamento e o aspecto messiânco do regime iraniano representam imensos obstáculos a tal diplomacia. Se Teerã insistir em combinar a tradição imperial persa com o fervor islâmico contemporâneo, então uma colisão com a América - e, de fato, com seus parceiros de negociação dos Seis - é inevitável. Simplesmente, não se pode permitir que o Irã realize um sonho de domínio imperial em uma região de tanta importância para o resto do mundo.
Ao mesmo tempo, um Irã que se concentre no desenvolvimento do talento de seu povo e nos recursos do país não deveria ter nada a temer dos Estados Unidos e das demais potências. A despeito da dificuldade de imaginar que o Irã sob o atual presidente participará de um esforço que exigiria que abandonasse suas atividades terroristas e seu apoio a tais instrumentos como o Hezbollah, o reconhecimento desse fato deveria emergir do processo de negociação ao invés de se constituir no fundamento para a recusa de negociar. Tal enfoque implicaria a redefinição do objetivo de mudança de regime, fornecendo uma oportunidade para uma mudança de direção genuína pelo Irã, quem quer que esteja no poder.
É importante expressar essa política em objetivos precisos, que sejam passíveis de verificação transparente. O diálogo geopolítico não é substituto para a solução urgente da crise do enriquecimento nuclear. Esta deve ser enfrentada separadamente, rapidamente e firmemente. Mas muito dependerá da absorção que o Irã experimente de que, realmente, é muito forte a posição aliada nesse assunto, como o primeiro passo para o convite mais amplo ao Irã para que retorne ao mundo.
No fim, os Estados Unidos terão que estar preparados para defender seus esforços de impedir um programa iraniano de armas nucleares. Por essa razão, eles têm a obrigação de explorar qualquer alternativa.

Tuesday, August 08, 2006

Dois filmes, um livro e duas épocas

Os dois filmes são Plein Soleil, francês, do início da década de 1960, traduzido para o Brasil como O Sol por Testemunha, do diretor René Clément, com Alain Delon, Maurice Ronet e a lindíssima Marie Laforêt, e The Talented Mr Ripley, americano, do começo do segundo milênio, vertido para o português quase literalmente, ou seja, como O Talentoso Ripley (só faltou o "Sr."), de Anthony Minghela, com Matt Damon, Jude Law e Gwyneth Paltrow.
Entre os lançamentos dos dois há algo como 40 anos, um grande pedaço do fenomenal Age of Extremes - The Short 20th Century de Hobsbawm, que teria começado (o século) com a Primeira Guerra Mundial, em 1914, e se estendido até 1991, quando ruiu a União Soviética.
O livro é, também, The Talented Mr Ripley, da igualmente talentosíssima texana Patricia Highsmith, que acho uma escritora soberba. Ela morou muito tempo no sul da França. Morreu em 1995. Era, entre outras coisas, lésbica. Tem, inclusive, um livro sobre a vida e o ambiente gay, ambientado em Zurique, Small g: a summer idyll, publicado em 1994 por editora suíça, bastante diferente de suas outras obras, mas, como sempre, instigante.
Os filmes se basearam no livro. O primeiro, o francês, teve mais võo livre: menos fiel, ou por causa da autocensura da época ou por sei lá o quê. Seu final indica que o criminoso vai ser apanhado, ao contrário do livro, em que ele escapa vivo, vitorioso, lépido e faceiro, em aberto desafio ao cânone moralista idealizador de que "o crime não compensa". Seu produtor parece ter levado em conta este parâmetro, para não prejudicar a possibilidade de sucesso de público no mercado americano, o maior do planeta, que então, moralizante, impunha rígido autocontrole sobre a fábrica de sonhos de Hollywood, ainda na esteira do macarthismo. Os estúdios californianos tudo regulavam, policiando em nome da "moral e dos bons costumes", todos os percebidos "desvios" capazes de influenciar negativamente o faturamento de suas produções, em decorrência dos pruridos de "pureza" então vigentes na psique social americana, incentivados também pelo governo, pelo Congresso, e até pela Justiça. Principalmente no campo sexual, nos costumes e na análise sócio-política internacional sob o constrangimento da Guerra Fria travada com a potência comunista. Assim é que até os beijos (sempre de boca fechada) tinham restrição de tempo, de proximidade da tomada, de voracidade, do acompanhamento musical e da iluminação. Tinham que parecer exclusivamente "românticos", não indutores de comportamento sensual "animalesco", "imoral" e "anti-social". O mesmo se aplicava em relação ao estrato social americano, considerado puro: nada de implicações de que o crime pode compensar; nada de descontentamento social; nada de racismo; nada contra a free enterprise e o laissez-faire econômico. Dessa forma, imagino que o ótimo diretor René Clément tenha se curvado ao diktat moralista americano ao modificar o final do filme, para não afrontar a sua percepção idealista do bem e do mal com a impunidade da criminosa personagem central, o abominável Ripley.
Gostei muito do filme francês quando o ví, estudante ainda saído da adolescência, em um cinema do Posto 6, em Copacabana, de cujo nome não consigo me lembrar por mais que tente. Gostei tanto que repetí a dose mais umas três vezes, na mesma época, apesar do dinheiro curto. Desde então nunca mais o revi. Agora, com estas reminiscências, vou tentar fazê-lo.
Um irmão meu reviu O Sol por Testemunha recentemente e, comparando-o com O Talentoso Ripley atual, o achou "uma merda". De fato, acredito que tenha pensado dessa forma. Talvez, ou melhor, tenho certeza disso, porque ele, em minha opinião, não avaliou apropriadamente os contextos, com quase 40 anos de lapso, totalmente diferentes (sem falar em sua diferença de idade, que também tem muita influência), que não admitem comparação. Assim como não se pode comparar banana com laranja; como não se pode afirmar, por exemplo, qual teria sido a melhor Seleção Brasileira, dado que, digamos, o futebol de 1970 era completamente diferente do atual, a ponto de poder ser considerado um outro jogo. Com efeito, já vi vários filmes e li vários livros que, em outra visita largamente espaçada no tempo, adquirem significados muito distintos, na maioria das vezes com mudança para pior, como é absolutamente natural (o contrário, embora exista, é que seria incomum!). Esses quarenta anos do "breve século XX" de Eric Hobsbawm representaram, além disso, brutal avanço tecnológico e presenciaram a História com agá maiúsculo ser escrita em letras garrafais de maneira cataclísmica, desde o processo de integração aduaneira, econômica, política e, finalmente, monetária da maior parte da Europa Ocidental que se seguiu ao Plano Marshall, passando pela maior e mais rápida fase de crescimento econômico da História; pelas guerras do Vietnam e do Oriente Médio; pelos choques do petróleo da década de 1970; pela Revolução Islâmica Fundamentalista do Irã, com instauração do governo divino; pela explosão da Revolução Tecnológica, a maior inovação tecno-econômica de todos os tempos, capitaneada pela Tecnologia da Informação, de alcance global imenso; pela deterioração concomitante do império comunista utópico; pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989; pelo desmoronamento final da União Soviética em 1991, implicando no término da Guerra Fria; pelo nascimento e difusão avassaladora da Internet, a mais eficaz ferramenta educativa e de difusão cultural e compartilhamento internacional do trabalho jamais inventada, além de propiciadora de inclusão e nivelamento social sem par; pela ruptura do segundo milênio, com a continuidade da evolução da velocíssima, silenciosa, limpa revolução dos computadores; pela globalização em curso...
Bem, eu me estendi demasiadamente, levado
Considerando tudo isso, fica claro que não há como, racionalmente, comparar os dois filmes.
, a não ser
tal.na defasagem do tempo (e de minha idade),em simagino que para satisfazer aos "quadrados" morais de amor com a irrealidade, ainda muito em voga, principalmente nos Estados Unidos (falo só de países importantes; muito depois disso aqui no Brasil - que, hoje em dia, já tem até uma certa importância -, em plena ditadura, Malcolm McDowell e outros foram obrigados a esconder o pau e a xota atrás de bolotas coloridas "made in Brazil" que um infeliz editor foi forçado a colocar na película, para esconder "suas vergonhas" em defesa da brava moral católica e dos bons costumes da gente brasileira, promovida pela ditadura militar em seu enlevo de pureza, embora por baixo dos panos - e até por cima - baixasse o pau). É claro que a escritora desde cedo foi um espírito livre. Talvez tenha sido por isso que deixou a América (acho que vou continuar a escrever assim, como normalmente os americanos e europeus fazem, embora receie que possam me chamar de subserviente colonizado (bem que gostaria de ser!): é mais prático do que E.U. por extenso e só E.U. fica muito esquisito. Os jornais e revistas brasileiros usam EUA, mas não gosto; parece EAU dos Emirados. USA é mais fácil porque não tem pontinhos, mas é em inglês e eu seria um colonizado cultural americano de novo. Até perto de 1970 - ou terá ido até mais tarde? - se grafava assim: EE.UU., como via nas manchetes dos jornais desde que aprendí a ler e concluí ser esse país muito importante porque todo dia aparecia nos jornais, lá em cima, "EE.UU", e eu, criança, pensava: "Meu Deus!, isso é que é um país de verdade, aparece todo dia no jornal, e em letras enormes e grossas. Depois de pensar muito, acabei concluindo que era assi porque "estado" e "unido" estavam no plural, e pedia dois "E"s e duplo "U", e com pontos no arremate. Uns dez anos atrás, quando comprei uma central de ar condicionado argentina, fiquei embasbacado com "BB.AA." na plaqueta de identificação: que diabo seria isso? Dentro do equipamento aparecia de outra forma "Bs. As.". Então ficou claro: província de BB. AA., ou de Bs. As., isto é, de Buenos Aires, cara. Será que continua assim? e foi morar na França. Não dava lá muita importância aos cânones morais repressivos mais em voga em sua terra do que no sul da França.
O americano seguiu muito mais nos trilhos lançados por Patricia Highsmith, mas sem deixar de dar suas (belas) escapadas. Jazz, Charlie "Bird" (iate) Parker. Emoção: visual, cheiros, sons, música, beleza das pessoas,das roupas, dos movimentos, do sexo, das bebidas, do suor, ...Pungência. Iamgem do pedinte na via della concilazone (?) no vaticano. Pungente! A arte p mim é sentimento, entrosamento. Fraseado musical do Sinatra. Música brasileira, poesia de Noel. Música brasileira!!!!!!!! Chico, caetano. OS ANTIGOS.
Henry Miller "...a sort of Döppelganger to my regular cock" De que livro vem esse pedaço de frase? (Sexus, Nexus, Plexus, Trópico de Câncer, Trópico de Capricórnio)? Com a Internet (acho que merece o I maiúsculo, poucas coisas merecem mais; a Veja grafa erradamente, penso, com minúsculas) só vai existir como que um livro no mundo, todo linkado; seria fácil achar a frase de Miller em qualquer livro de sua autoria em que esteja, ou em livros de váras editoras, quaisquer que sejam as edições, citando os números das páginas em que se encontram etc e tal.
Ingenuidade do passado apesar dos Stalins , Maos, Hitlers, que tudo podiam ser, menos ingênuos. Mas o passado sempre se nos afigura ingênuo (filne francês: imagem dos produtores cortando com tesoura e montando com bandaid) (filme american: tecnologia, dinheiro e competência; reconstituição dos 50s primorosíssima. Os críticos de certa forma meteram o pau; não entendo. Os críticos: tava ttão nem aí p eles que até mesmo nã os ignorava.
Camisa Body and Soul finlandesa. 35 anos de duração: laranja. Botões de metal prateado nos punhos das mangas compridas. O encontro no metro parisien. Coincidências (imagem pobre!, pensar outra forte, impactante) da vida.
"Ça se peut" de Hans Peter Bank, the perfect gentleman. Berlim. Kluckstrasse.Tiergarten.
"Peut être" do jovem militar norueguês de Amboise ville jumellée de Vinci.
Filme Outback cenárioo sertão australiano. Cervejas no verão canicule parisiense. Sede enorme.
FRASE QUE FICAM. Sensualidade. Os sentidods: visão, audição, paladar, tato, olfato. E o sext sentido, como dizia hi-fi as baixas e altas regiões da escala de Hz iaudíveis para os humanos, mas nãp p os cachorros, nas a fidelidade, diziam, ficava o máximo: a gente "sentia". A sensação era (seria) intangível. Embora a física negasse se "ouvia". Questão de fé Hezbollah.

O Irã, a Bomba e o Mundo (III)

A atenção mundial se concentra nos enfrentamentos no Líbano e na Faixa de Gaza, mas o contexto insiste em apontar inevitavelmente para o Irã. Infelizmente, a diplomacia mirada na questão iraniana é constantemente superada pelos acontecimentos. Enquanto chovem bombas nas cidades libanesas e israelenses e Israel retoma partes de Gaza, a conexão mental com o veio mestre iraniano se vela.

Até aqui os Seis têm sido vagos a respeito de sua resposta a uma recusa iraniana em negociar, exceto por ameaças inespecíficas de sanções via Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas se um impasse entre a omissão fatigada dos Seis e a injúria sarcástica do presidente iraniano conduzir a uma aquiescência de fato ao programa nuclear do Irã, as perspectivas de uma ordem internacional multilateral se reduzirão por toda parte. Se os membros permanentes do Conselho de Segurança, mais a Alemanha, forem incapazes de conjuntamente realizar os objetivos aos quais se comprometeram publicamente, todo país, especialmente entre os componentes dos Seis, enfrentará ameaças crescentes, sejam pressão doméstica aumentada de grupos islâmicos radicais, atos terroristas ou as quase inevitáveis conflagrações detonadas pela proliferação de armas de destruição em massa.
A analogia com tal desastre não é Munique, quando as democracias cederam a parte da Tchecoslováquia de fala alemã a Hitler, mas a resposta quando Mussolini invadiu a Abissínia. Em Munique, as democracias pensaram que as exigências de Hitler estavam essencialmente justificadas pelo princípio da autodeterminação; a elas repugnaram mais os métodos do ditador nazista. Na crise abissínia a natureza do desafio era incontroversa. Por ampla maioria, a Liga das Nações votou no sentido de tratar a aventura italiana como agressão e de impor sanções. Mas os votantes recuaram diante das conseqüências de sua decisão e rejeitaram um embargo de petróleo, que a Itália teria sido incapaz de vencer e a teria posto de joelhos. A Liga jamais se recuperou do débâcle. Se os foros hexa-nacionais negociando com o Irã e a Coréia do Norte sofrerem fracassos comparáveis, a conseqüência será um mundo de disseminada proliferação, não controlada nem por diretrizes emanadas de princípios nem por instituições em funcionamento.
Um Irã moderno, forte e pacífico poderia se tornar um pilar de estabilidade e progresso na região. Isso não pode acontecer a não ser que os líderes do Irã decidam se representam uma causa ou uma nação - se sua motivação básica é o estabelecimento de uma cruzada ou a cooperação internacional. O papel da diplomacia dos Seis deveria ser forçar o Irã a confrontar esta escolha.
A diplomacia nunca opera em um vácuo. Ela persuade não pela eloqüênca de seus praticantes mas pela montagem de uma balança de incentivos e riscos. O famoso ditado de Clausewitz de que a guerra é a continuação da diplomacia por outros meios define tanto o desafio quanto os limites da diplomacia. A guerra pode impor a submissão; a diplomacia precisa evocar o consenso. O sucesso militar capacita o vitorioso na guerra a dar a receita, pelo menos durante um período interino. O sucesso diplomático ocorre quando as partes principais se encontram substancialmente satisfeitas; ele cria - ou deveria lutar para criar - propósitos comuns, pelo menos em relação ao âmago da negociação; de outra forma nenhum acordo demora muito tempo. O risco da guerra reside em exceder os limites objetivos; a perdição da diplomacia em trocar o propósito pelo processo. A diplomacia não deveria ser confundida com loquacidade. Não é um exercício de oratória e sim conceitual. Quando ela posa para audiências domésticas, os desafios radicais são mais encorajados do que ultrapassados.

É freqüentemente afirmado que o que é preciso em relação ao Irã é uma diplomacia comparável àquela que, na década de 1970, fez a China se mover da hostilidade para a cooperação com os Estados Unidos. Mas a China não foi persuadida por uma diplomacia habilidosa a entrar nesse processo. Na realidade, foi trazida, por uma década de conflito em escalada com a União Soviética, para uma convicção de que a ameaça à sua segurança vinha menos da América capitalista do que da crescente concentração de forças soviéticas em suas fronteiras meridionais. As refregas entre as forças militares chinesas e soviéticas ao longo do rio Ussuri aceleraram a retirada de Pequim da aliança soviética.
A contribuição da diplomacia americana foi compreender o significado desses acontecimentos para agir com base nesse conhecimento. A administração Nixon não convenceu à China de que ela precisava modificar suas prioridades. Seu papel foi convencê-la de que a implementação de suas necessidades estratégicas era seguro e realçaria suas perspectivas de longo prazo. Fez isso pela concentração do diálogo diplomático nos fundamentos geopolíticos objetivos, ao mesmo tempo em que mantinha alguns itens contenciosos em latência. O Comunicado de Xangai de 1972, o primeiro comunicado sino-americano, simbolizou este processo. Contrariamente ao costume estabelecido, listou uma série de desacordos que permaneciam como um prelúdio para o objetivo chave comum de impedir aspirações hegemônicas de terceiros não nomeados - claramente visando a União Soviética.


Monday, August 07, 2006

O Irã, a Bomba e o Mundo (II)

Trata-se do problema imposto pelo governo do Irã ao establishment diplomático e de defesa do Ocidente, antes da eclosão da presente conflagração no Oriente Médio, por sua controvertida decisão de continuar seu programa de enriquecimento de urânio "para fins pacíficos" (algo espantoso para um grande exportador de petróleo), combatido pelos governos ocidentais, pela Rússia e pelo Japão. O problema é que a tecnologia pesquisada também pode capacitar seu detentor a produzir artefatos nucleares, o que se choca com a necessidade do TNP de coibir a proliferação de armas atômicas.
O Irã tem declarado que não vai se curvar à imposição ocidental e que continuará com seus estudos e suas pesquisas nesse campo, por considerá-los vitais para o desenvolvimento tecnológico do país. Acrescenta que os iranianos têm todo o direito de lutar pelo avanço do país na área tecnológica e que os outros países não podem se imiscuir em suas questões internas nesse setor, como em qualquer outro.
O contencioso do Irã com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU, em Viena, já é volumoso. Como o regime dos mulás não atendeu aos reiterados pedidos da Agência para que se submetesse às suas exigências de fiscalização e controle (uma das razões da própria existência da AIEA), foi redigido (pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e pela Alemanha: os chamados Seis) projeto de Resolução relativo à questão.
Foi dentro desse contexto que explodiu o conflito entre Israel e o Hezbollah, a 12 de julho.
O projeto foi aprovado por 14 votos contra 1 (do Catar), resultando na Resolução do Conselho de Segurança da ONU de 31 de julho de 2006.
A Resolução exigiu que o Irã atendesse às determinações da AIEA, suspendesse imediatamente todas as atividades de enriquecimento de urânio e de reprocessamento, incluindo pesquisa e desenvolvimento, e deu-lhe prazo de um mês para cumprí-la, sob pena da "possibilidade" de enfrentar sanções diplomáticas e econômicas.
O Irã recebeu como que um ultimato do Conselho de Segurança, embora em linguagem branda que fala da "possibilidade" de sanções, com prazo até 31 de agosto de 2006, para se curvar ao que foi decidido ou sofrer sanções. Sanções que não foram, contudo, especificadas na Resolução, permanecendo vagas.
Diz que não vai ceder.

Assim estão as coisas no momento em que escrevo.

A conjuntura fica ainda mais complicada porque o presidente do Irã, Ahmadinejad, um engenheiro que assumiu faz um ano (em 03 de agosto de 2005), com maior poder do que os presidentes que o antecederam, é dono de oratória bombástica e incendiária, e de bizarria amedrontadora.
Ele afirma que Israel deve ser varrido do mapa e que o Holocausto não passa de fantasia. É declaradamente anti-semita.
Foi um dos carcereiros dos reféns americanos da crise da década de 1980, na embaixada americana em Teerã.
Apóia abertamente o Hezbollah e endossa, e incentiva, os atos terroristas contra todos que não se submetem ao Islã, como o vê.
Em suma, é um extremista.
Se o regime religioso-fundamentalissta iraniano já era considerado rogue sem Ahmadinejad quanto mais com ele. O Irã, nestas circunstâncias, é como um bully que arremessa seu peso para os lados aleatoriamente, na aparência desprovido de objetivos discerníveis, sem parecer se importar com o bem-estar dos que com ele cruzam.
Pelo exposto, fica claro que para o Ocidente (na verdade para todo o mundo) a posse pelo Irã de armamento nuclear é absolutamente inaceitável, posição reforçada por sua ação, ou omissão, na deflagração do conflito em curso no Oriente Médio.
Em maio deste ano os Seis (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, os membros permanentes do Conselho de Segurança, mais a Alemanha) propuseram ao Irã negociações sobre seu programa de armas nucleares. Não houve resposta. Daí a Resolução do Conselho de Segurança da ONU de 31 de julho.
É possível que Teerã tenha interpretado o tom quase de súplica da comunicação que lhe foi enviada como um sinal de fraqueza e hesitação. Por outro lado, talvez a violência no Líbano tenha imposto sobriedade aos mulás, levando-os a pensar duas vezes acerca dos riscos de cortejar e detonar crises.
O que quer que tenha acontecido, a sublevação no Oriente Próximo pode se tornar um ponto de virada. O Irã pode vir a avaliar a lei das conseqüências não desejadas. Do seu canto, os Seis não podem mais evitar lidar com os desafios gêmeos que o Irã coloca. De um lado, a busca por armas nucleares representa a ânsia do Irã pela modernidade através do símbolo de poder do Estado moderno; ao mesmo tempo, esta procura é avançada por uma modalidade fervente de extremismo religioso que conservou o Oriente Médio muçulmano atrasado por séculos.
Este enigma só pode ser resolvido sem conflito se o Irã adotar um modernismo consistente com a ordem internacional e uma visão do Islã compatível com a coexistência pacífica.

Friday, August 04, 2006

O Irã, a Bomba e o Mundo (I)

A guerra no Oriente Médio entre Israel e a milícia libanesa xiita do Hezbollah já entra na quarta semana e se percebe que a grande mídia internacional começa a retirar o relevo inerente ao assunto, como faz em relação aos casos inconclusos que o passar do tempo transforma em "comuns", embora o conflito esteja longe de ser ordinário e seja vital, não só para Israel mas também para o futuro global e a diplomacia internacional do nível mais elevado. Quando as forças armadas israelenses atacaram o Hezbollah, em 12 de julho, em decorrência da incursão da milícia fundamentalista que controla o sul do Líbano ao território israelense, invasão que culminou com o seqüestro de dois soldados das IDF e a morte de outros oito, a posição diplomática de Israel era inatacável. Afinal, seu território fora invadido e bombardeado por forças irregulares baseadas em território libanês, que mataram e raptaram soldados de Israel, numa clara infringência a todas as normas internacionais de convivência entre Estados, embora o Hezbollah não represente qualquer Estado e, portanto, não integre a ONU, o que ainda mais ratifica e amplifica a justeza da ação defensiva e retaliatória que foi empreendida por Israel contra um "exército" renegado e considerado terrorista pelo Ocidente. Até mesmo países árabes, de governos moderados, como o Egito e a Jordânia, além da Arábia Saudita da dinastia Saud, e do próprio Líbano, permaneceram calados, até mesmo apoiando discretamente a ação do Estado judeu (que, diga-se, vinha também em apoio a seus atuais interesses governamentais particulares, escamoteados às suas respectivas populações devido ao risco de inflamação do orgulho, complexo de inferioridade das massas permanentemente subjacente a tudo que diz respeito ao mundo exterior -vale dizer, ao Ocidente- e ressentimento árabes, cuja eclosão poderia ser desastrosa para os grupos no poder nesses países. Pois, apesar de os iranianos, profundamente envolvidos no affair, não serem árabes, os milicianos guerrilheiros do Hezbollah o são e, a par deste fato, a milícia participa do Parlamento libanês e gere extensa rede de serviços sociais e de comunicação espalhada por todo o Líbano, o que sempre garante a boa vontade de boa parte da população libanesa e, por extensão, árabe).
O teor dos comentários iniciais sobre o conflito dos jornais Al Ahram, do Egito, Jordan Times, da Jordânia, e até do Daily Star de Beirute, e da altamente censurada e oficiosa imprensa saudita, confirmam a assertiva anterior.
Entretanto, a continuação da iniciativa militar israelense, ainda sem ponto de saída, e o extraordinário sofrimento imposto à população civil libanesa (da qual 25% já se transformaram em refugiados de guerra) pela estratégia bélica adotada por Israel, ou seja, pelo emprego pesado dos ataques aéreos a toda a infraestrutura libanesa (em contraposição à alternativa de guerra terrestre maciça limitada à faixa sul do Líbano até o Litani), em todos os pontos do diminuto território do Líbano, transformaram os termos da equação. Agora a grita é geral nos países árabes citados. E na União Européia e na ONU, que exigem o cessar-fogo imediato e pressionam o governo Bush a colocar rédeas no ímpeto israelense de desenraizar a ameaça xiita libanesa. Alguns especialistas já atribuem o presente "impasse" à estratégia militar israelense "errada", enfatizada no emprego do poder aéreo, e advogam sua imediata revogação, em prol de campanha terrestre avassaladora e imediata no sul do Líbano, com apoio marginal da aviação, para a expulsão total do braço armado do "Partido de Deus" para o norte do rio Litani, como última oportunidade para que Israel emerja do conflito com algum resultado diplomático positivo.

As últimas tropas sírias deixaram o Líbano em abril de 2005. De lá para cá, todavia, a milícia do Hezbollah tem fortalecido cada vez com mais ímpeto sua identidade de ponta-de-lança do Irã, dedicada à exacerbação da confrontação do Islã com Israel e o Ocidente.

Quanto à consecução de uma paz na presente conflagração, ou melhor, de um cessar-fogo no mais curto espaço de tempo possível, os passos a seguir delineados devem, em minha opinião, ser tomados de imediato, sem esquecer, entretanto, a inserção, no desenho diplomático mais amplo, da teocracia perturbadora iraniana e da ditadura síria de Assad, apoiadores declarados e confessos de Nasrallah.

Pela Resolução 1559, os membros da ONU aceitaram a responsabilidade de "restaurar" a plena soberania ao governo reconhecido do Líbano, que foi esfacelado pela guerra civil e posteriormente subjugado como protetorado da Síria. A hora, portanto, de os componentes das Nações Unidas adequarem seus atos às palavras empenhadas, e de efetivamente agir, chegou.

Para começar, a UNIFIL (a força multinacional interina da ONU que vem "supervisionando" os vários cessar-fogo desde 1978) deve ser totalmente descartada, pois revelou ser absolutamente incapaz, por várias razões, de cumprir, minimamente que seja, os objetivos que lhe foram atribuídos pela organização internacional, resultando em um fracasso desmoralizante. De fato, não conseguiu impedir os ataques do Hezbollah ao território israelense desde 2000, quando Israel unilateralmente se retirou do sul do Líbano.
A nova força expedicionária multinacional deve ser muito maior e mais forte, com pelo menos 20000 combatentes bem armados e motivados, e com poderes importados do Capítulo VII da OTAN que lhe permitam a imposição da paz no caso de violação do acordo pelo Hezbollah ou por Israel.
Ela deve estar preparada para permanecer no Líbano meridional até que o fraco governo libanês detenha condições de desarmar a milícia islâmica ou de absorvê-la em suas forças armadas regulares, sujeita aos ditames constitucionais do país e à autoridade do governo legal (é muito difícil, reconheço, considerando-se que a racionalidade não desempenha papel importante no jogo dos partidários extremistas do Islã; mas quais as alternativas?).
Os debates na ONU acerca da composição e do mandato da força multinacional prevista colocam a França como seu provável comandante e a Turquia como um dos maiores contribuintes de tropas. O que parece ser adequado, dadas as ligações (históricas e emocionais) entre a França e o Líbano e o liame apertado entre a Turquia e Israel.
Contudo, as pré-condições impostas pela França para sua participação no esquema sugerido, ou seja, que antes de mais nada se chegue a um acordo político, sugere que ela não quer se arriscar a ter de combater, o que é passível de transfigurar a nova força expedicionária aventada em não mais que uma versão inflacionada da UNIFIL.
Os turcos, por outro lado, devem ser recebidos, como são, com muita esperança, dado que as tropas anatólias possuem ferocidade e obstinação comprovadas, e considerando que a Turquia faz parte da OTAN e tem experiência em manutenção da paz no Afeganistão.
A contribuição turca poderia ser reforçada, por exemplo, por contingente de peso de outro país muçulmano com reputação militar séria e de respeito, como o Paquistão. Assim, haveria alguma esperança de que a força projetada possa se mostrar eficaz.
A OTAN pode, no momento, não ter condições de desempenhar um papel importante no caso, dado seu comprometimento já existente nos Bálcãs, em Darfur, no Afeganistão e no Iraque. Mas pode muito bem fornecer apoio logístico e de comando e controle.
Uma gigantesca força multinacional capitaneada pelos Estados Unidos foi despachada para o Oriente Médio com o objetivo de restaurar a soberania do Kwait, invadido por Saddam Hussein. Quinze anos depois, as Nações Unidas encaram, bem próximo, outro desafio à soberania nacional, desta vez cometido por um não-Estado, o Hezbollah, incentivado pelo Irã. O desaparecimento desse grupo militante islâmico, pelo menos como força militar, será também um grande passo para a contenção das ambições mais amplas dos extremistas xiitas.

Relativamente ao Irã, força religiosa-fundamentalista-estatal por trás da atual guerra no Oriente Médio, acredito que as ações diplomáticas do Ocidente e, mais amplamente, do mundo dotado do mínimo esboço de responsabilidade e racionalidade, devam ser, por exemplo, as discriminadas abaixo.

No contexto da guerra em curso, contudo, o Irã não é mencionado (nem alvo das iniciativas diplomáticas que surgem) com o destaque e relevo que lhe deveriam caber por se tratar de potência religiosa fanática profundamente entranhada na disputa pelo poder, corações e mentes da problemática região que, por suas ações, dessa forma incendeia.
Ora, este país fundamentalista islâmico é o principal mantenedor e incentivador do Hezbollah (com parceria acessória complementar da Síria), fornecendo-lhe armas, treinamento militar e aconselhamento de cunho, para todos os efeitos, impositivo. De fato, mesmo que o Irã não soubesse das ações intentadas pelo Hezbollah (o que é pouco crível), teria o poder de abortá-las se quisesse. Assim, o Hezbollah, a despeito de todo o seu poder, não passa atualmente de um proxy do regime dos mulás, e de seus interesses em território libanês. E de um posto avançado, e armado, dos interesses iranianos na região. Em decorrência, o Irã, além do Hezbollah, deveria ser tratado como ameaça aos interesses ocidentais de estabilização do conturbado Oriente Médio, tanto pela diplomacia quanto pelo aparato de defesa do Ocidente. O Irã mais que o Hezbollah, por se tratar de um Estado-nação membro da ONU, por ser o patrono do Hezbollah, e por seu peso populacional, militar e político infinitamente maior (e não menos , por seu fanatismo religioso de Estado), transformando-o, na verdade, em um complicador de caráter mundial.

Acresce que o Irã está metido, faz já algum tempo, em outro imbroglio de importância capital, crucial, vis-à-vis a plataforma básica diplomática e de defesa do Ocidente e, pelas ominosas implicações estratégicas, de todo o mundo dito civilizado.

O Irã, a Bomba e o Mundo

A guerra no Oriente Médio entre Israel e a milícia libanesa xiita do Hezbollah já entra na terceira semana e se percebe que a grande mídia internacional começa a retirar o relevo inerente ao assunto, como faz em relação aos casos inconclusos que o passar do tempo transforma em "comuns", embora o conflito esteja longe de ser ordinário e seja vital, não só para Israel mas também para o futuro global e a diplomacia internacional do nível mais elevado. Quando as forças armadas israelenses atacaram o Hezbollah, em 12 de julho, em decorrência da incursão da milícia fundamentalista que controla o sul do Líbano ao território israelense, invasão que culminou com o seqüestro de dois soldados da IDF e a morte de outros três, a posição diplomática de Israel era inatacável.

Thursday, August 03, 2006

O PCC e o Congresso (III)

Os parlamentares "normais", de número ao redor de, no máximo, 50% do universo dos congressistas (Câmara e Senado), isto é, aqueles que ao entrarem no Congresso ainda não eram bandidos e que foram capazes de resistir ao forte incentivo à corrupção com que se defrontaram na instituição, podem ser divididos em dois grupos. O primeiro é composto pelo "normais relativos", ou seja, os congressistas que possuem de fato um certo relativismo que lhes veda o roubo planejado, direto, puro e simples (como o praticado pelos "anões do orçamento" e "sanguessugas", por exemplo, através da intervenção direta da ação parlamentar), a associação prévia para assalto ao Estado (via alocação ilícita de compras pelo governo de mercadorias e serviços superfaturados, de firmas que os subornam; a nomeação de ministros de Estado, presidentes, diretores e assemelhados com poder de mando em ministérios, empresas, secretarias, autarquias e fundações públicas, que, em contrapartida, lhes fornecem uma parte do butim travessamente apropriado) e outros crimes, embora achem perfeitamente natural o tráfico de influência, o nepotismo, as diárias e ajuda de custo referentes a viagens (principalmente ao exterior) por motivos nebulosos, bizarros, e coisas que tais. São dados também a nomeações de parentes, aderentes , agregados e clientes políticos em cargos federais, ou mesmo estaduais e, ainda, quiçá, municipais (dependendo de seus graus de acordos "políticos" com os governadores e prefeitos dos estados a eles afetos), como forma de comprar apoio político na próxima contenda. Representam cerca de 70% dos "normais" e, lógico, 35% do bolo total.
Os segundos são os "normais ético-idealistas", somando aproximadamente 30% do número dos "normais", é óbvio, e portanto 15% dos membros da Câmara e do Senado tomados em conjunto.
Os parlamentares "normais ético-idealistas" são os que, verdadeiramente, possuem a ética que a população espera de seus "representantes", isto é, são incapazes de roubar e de usufruir quaisquer vantagens indevidas que possam decorrer do exercício de sua alta função política, mas que são, em contrapartida, muito ansiosamente bem-vindas para os congressistas "normais relativos", que chegam mesmo a caçá-las descaradamente sob as vistas estarrecidas dos espectadores.
É, conseqüentemente, apenas dos "normais ético-idealistas" que o país pode esperar algo de bom, embora muito pouco, como se verá. São eles que possuem a determinação de trabalhar duramente para tentar implantar as reformas que julgam ser mais adequadas para o bem-estar social e econômico da nação, sob sua ótica, claro. Alguns deles, a subdivisão que chamarei de "normais ético-idealistas ilustrados", a minoria evidentemente (digamos, uns 40% da sua categoria, que já é pequena, na melhor avaliação - ou seja, 6% do universo total), sabem até ler, escrever e interpretar (e em mais de uma língua), planejar táticas e estratégias políticas para o apoiamento de suas idéias, e, em suma, inovar e comandar. São la crème de la crème do Congresso Nacional. Líderes naturais. Viajados, cultos, insinuantes, sedutores, capazes, donos de currículo exemplar, amedalhados de cursos de pós-graduação em prestigiosas universidades no Brasil e no exterior, dotados de determinação, coragem e impulso, significam a esperança do Congresso. São seus shakers and movers.
Como disse, mesmo esses cerca de 40 (40? Está me parecendo muito! Quando deixo as elucubrações e volto à realidade, por exemplo, para tomar um café ou fazer uma necessidade física líquida frontal, e me ponho a cotejar o já redigido com a dura realidade objetiva, me pergunto, estupefato: e quem são esses 40???!!! De fato, nenhum me vem à cabeça, nem em nome nem em cara, nenhum Ruy, nem mesmo Lacerda, no Roosevelt, no Churchill, pas de De Gaulle: e falei em QUARENTA, meu Deus!!! Talvez as porcentagens referidas devam ser mitigadas. Enviesando para o deletério.Estarei sendo demasiadamente otimista? Parece que sim, hélas!) luminares citados, os shakers and movers, até mesmo eles, pouco podem fazer em prol do engrandecimento do Brasil e de todos nós, pela simples razão de que eles se cancelam uns aos outros, fazendo um jogo de soma zero. Por exemplo, se um diz "mais", outro fala "menos", se um outro grita "preto", o seguinte urra "branco". E assim sucessivamente... Ad infinitum.

Wednesday, August 02, 2006

O PCC e o Congresso (II)

Assim, o poder legislativo federal brasileiro alardeia ser tanto um sorvedouro quanto um agente formador de vigaristas, um núcleo institucional que, exibindo as vantagens da esperteza almofadada e protegida a seus membros, treina e conserva em seus quadros esses marginais da lei, em proporção aberrantemente maior do que a existente na sociedade circunjacente que o sustenta e que o criou para representá-la, como um dos pilares da arquitetura do Estado.
O político, digamos, "normal", com certa queda para a atividade político-partidária, ainda não criminoso, que consegue chegar ao Congresso, logo percebe que ali, de várias maneiras, a prática delituosa é acobertada, ao mesmo tempo em que é tocado pelo amplo leque de oportunidades para ganhos fáceis, embora ilícitos. A tentação é muito forte e vários sucumbem e desabam na vala comum da corrupção parlamentar. Outros, já malfeitores experimentados e contumazes na vida normal (muitos deles criminosos da mais alta periculosidade), visam a atividade congressual federal (nos estados, via de regra, é ainda pior!) como um refúgio de última instância capaz de defendê-los do processo penal e da prisão, e a ela acorrem desesperados, encarando as despesas elevadas indispensáveis para triunfarem em seu intento como um investimento inevitável para a manutenção de sua impunidade, pelo menos durante os anos do mandato. Além disso, o ingresso na Câmara ou no Senado lhes premiará com diversas ocasiões e conjunturas adequadas ao exercício da delinqüência, de que resultará a recuperação do capital inicial aplicado, acrescido de robustos lucros que servirão para os financiamentos das próximas candidaturas (e assim por diante, em um moto perpétuo...). Estes são os bandidos-congressistas transmutados; os primeiros trata-se dos congressistas-bandidos convertidos.
Todos nós conhecemos de longe (às vezes nem tão de longe, infelizmente) pessoas que, por um motivo ou outro, consideramos inadequadas, loucas, e mesmo muito perigosas, de quem queremos permanecer o mais afastado possível, temerosos de que elas venham a saber de informações a nosso respeito, por menores e desprezíveis que sejam, capazes de capacitá-los a nos ameaçar, tanto fisicamente quanto do ponto de vista psicológico e emocional. Naturalmente, fugimos delas como o diabo da cruz. Nessas circunstâncias, chego a sentir pena dos deputados (mais) e dos senadores (menos, sendo o seu clube menor e mais exclusivo); isto é, só dos "normais", dado que os outros estarão imersos em seu habitat natural, de achaque, chantagem e empulhação. Pois eles, os "normais", se vêem forçados, por suas próprias atividades, a conviver com pessoas desse tipo. E dentro de uma comunidade parlamentar relativamente pequena. Fico imaginando o verdadeiro pavor de que são acometidos todos os dias de "trabalho", e a repugnância que sentem do referido conúbio obrigatório. Talvez seja esta uma das vinganças do "povo" à ineficácia de seus "representantes", o preço que eles têm a pagar por sua inocuidade ruidosa.
Há um terceiro tipo de parlamentares: os que são eleitos por meio de subsídios de quadrilhas organizadas, para protegê-las do peso da imposição da lei penal e provê-las dos meios, informações e de toda a parafernália do clientelismo que forem possíveis, ilícitos ou ilegais que sejam, objetivando o continuado sucesso financeiro dessas entidades.
Como fica evidente, e implícito, resta a categoria dos parlamentares "normais" que não desmoronaram no assédio das atrações, no canto de sereia do assalto desbragado ao dinheiro público, com relativa segurança de impunidade se tudo correr como planejado e a lei de Murphy não se impuser. Trata-se de uma classe minúscula, quase espécie ameaçada de extinção. É por essa razão que os congressistas que a compõem são grafados como "normais", entre aspas, pois como chamá-los de normais (sem aspas) se são uma minoria em processo de desaparecimento? De fato, os loucos só são chamados de loucos porque são minoria; se fossem maioria os anormais seriam os outros.

Tuesday, August 01, 2006

O PCC e o Congresso (I)

Sanguesssugas, mensaleiros, vampiros, anões do orçamento, os nomes mudam mas a máfia da bandidagem permanece no Congresso brasileiro, principalmente na Câmara (até agora). Bem mais de 20% da Câmara dos Deputados foi acusada (muitas vezes com provas, e todas as vezes com indícios fortíssimos a elas equivalentes) de atos criminosos, facinorosos e inpiradores da repugnância da sociedade.
Digamos que, em avaliação conservadora (porque os fatos e a percepção dos observadores apontam para patamar mais elevado), 30% dos deputados sejam de fato meliantes criminosos. Ora, o índice de criminosos na sociedade brasileira é muito menor do que esse. Se não fosse, haveria cerca de 54 milhões de criminosos no Brasil, o que seria um completo absurdo. Devem existir no máximo 5 milhões (e isso incluindo os não descobertos, livres, leves e soltos), levando em conta que os condenados são aproximadamente 400 mil. Portanto, 5 milhões seriam 12 vezes e meia o número de criminosos condenados neste país (como gosta de dizer o presidente Lula), o que já é demais. Mesmo assim, só representam 2,77% da população brasileira. Quer dizer, a taxa de promiscuidade criminosa existente na Câmara dos Deputados do Brasil é mais de 10 vezes superior à da sociedade como um todo. Significa isso dizer que ou a Câmara é um criadouro de bandidos, ou os já malfeitores são irresistivelmente atraídos pela deputação federal, ou ainda que ambas as hipóteses estão corretas.
Inclino-me para a conjunção.

Início do meu Blog

Como diz o título, começo agora a "blogar". Vamos ver em que vai dar isso: acho que vai servir como uma espécie de disciplina auto-imposta para log, ou seja, registrar diariamente o que me passa pela cabeça e que não compartilho. Deve funcionar como um programa de psicanálise. Espero que faça bem. Pelo menos vou anotar algo (pouca coisa: acordado, penso sem parar) do que converso mudamente comigo mesmo.