Saturday, September 09, 2006

A Ameaça Islâmica

David Selbourne é o autor do livro The Losing Battle with Islam, publicado nos EUA em novembro de 2005. O jornal londrino The Times publicou hoje, 09/09/2006, um artigo dele bastante instigante chamado Can the West defeat the Islamist threat? Here are ten reasons why not ("Pode o Ocidente derrotar a ameaça islâmica? Aqui estão dez razões por que não").

Segue seu artigo. O que fiz foi só traduzi-lo.

Suponhamos, para argumentar, que a guerra declarada pela al-Qaeda e outros islamistas esteja ocorrendo. Suponhamos mais ainda que milhares de ataques "terroristas" levados a cabo em nome do Islã durante as décadas passadas formem parte dessa guerra; e que conflitos que se espalharam por cinqüenta países e mais, tirando as vidas de milhões - incluindo derramamento de sangue inter-muçulmano - sejam o resultado do que Osama bin Laden chamou "fazer a jihad pelo bem de Alá".

Se essa guerra estiver acontecendo, há dez boas razões por que, como estão as coisas, o Islã não será nela derrotado.

1) A primeira é a extensão da divisão política no mundo não-muçulmano acerca do que está em marcha.Alguns rejeitam totalmente que exista uma guerra; outros concordam com a afirmativa pelo presidente dos EUA de que "a guerra que lutamos é a luta ideológica decisiva do século XXI". Assessores divididos também ditaram qualquer coisa do "diálogo" ao emprego de armas nucleares, e da confiança na "diplomacia pública" à "tomada de locais islâmicos", Meca incluída. Aumentando essa incoerência tem sido o golfo entre aqueles coléricos para levar a luta ao "terrorista" e aqueles que impediriam tal luta, seja por preocupações civis e libertárias domésticas ou por cálculo geopolítico rival.

2) A segunda razão por que, como estão as coisas, o Islã não será derrotado é que as forças da comunidade mundial de muçulmanos estão sendo subestimadas, e a natureza do Islã mal compreendida. Ele não é nem uma "religião de paz" nem uma "religião seqüestrada" ou "pervertida" pelos "poucos". Em vez disso, sua intransigência moral e seus ardores revividos, sua ética jihadista e a recusa da maioria dos muçulmanos da diáspora em "compartilhar um conjunto de valores" com não-muçulmanos são uma coisa só, e justificada pelo próprio Corão.

O Islã não é nem mesmo uma religião no sentido convencional do termo. É um movimento político e ético transnacional que acredita que tem a solução para os problemas da humanidade. Ele, portanto, determina que é nos próprios interesses da raça humana estar subjugada sob o governo do Islã. Tal crença, em conseqüência, faz um disparate do projeto de "democratizar" nações muçulmanas nos interesses do Ocidente, uma inversão que o Islã não pode aceitar e, em seus próprios termos, corretamente. Torna ingênua, também, a distinção entre as alas militar e política dos movimentos islâmicos; e torna a asserção de Donald Rumsfeld em junho de 2005 de que os insurgentes no Iraque "não têm visão, eles são perdedores" meramente tola. Nesta guerra, se há uma guerra, a bota está no outro pé.

3) Com efeito, a terceira razão pela qual o Islã não será derrotado , como estão as coisas, é o baixo nível da liderança ocidental, em particular nos Estados Unidos. Durante o meio século de revivescência islâmica ela se mostrou às tontas tanto diplomaticamente quanto militarmente. Ela tem estado sem um senso de direção estratégica, e incapaz de estabelecer planos de guerra coerentes. Teve mesmo carência dos dons da linguagem para tornar claros os seus propósitos. Ou, como Burke colocou em março de 1775, "um grande império e mentes pequenas não se dão bem". Nesta guerra com o Islã, se é uma guerra, a combinação augura a derrota.

4) A próxima é a contribuição à desordem da formulação política ocidental sendo feita pela competitividade egoísta, e em alguns casos histérica, de "experts" e comentaristas acerca do Islã. Eles incluem islamófobos apopléticos bem como apologistas acadêmicos para o pior que esteja sendo feito em nome do Islã. Neste campo de batalha, com seus blogsites para apoiar a autopromoção, muitos parecem pensar que suas opiniões são mais importantes do que os assuntos a respeito dos quais estão passando julgamento; e entre a babel de vozes conselheiras, a formulação das políticas a serem seguidas se torna crescentemente inconsistente.

5) A quinta inaptidão é para ser encontrada na confusão dos "progressistas" a respeito do avanço islâmico. Com seus mancais políticos e morais perdidos desde a derrota do "projeto socialista", muitos na esquerda possuem apenas as enfadonhas posições anti-coloniais sobre as quais assentar sua tribuna. Atribuir os problemas do Ocidente ao nosso passado colonial contém alguma verdade. Mas é outra vez mal compreender a fortaleza interna do renascimento do Islã, que é devido não à posição de vítima mas ao avanço da confiança em seu próprio sistema de crença.

Além disso, para maior vantagem do Islã, ele levou a maioria dos "progressistas" a dizer pouco, ou mesmo a se manter silente, a respeito do que uma vez teria sido encarado como os aspectos reacionários do Islã: sua opressiva hostilidade à dissenção, seu mal trato das mulheres, seu ódio supremacista de grupos externos selecionados, como os judeus e os gays, e sua prontidão a incitar e empregar extremos de violência contra eles. Mein Kampf circula nos países árabes sob o título Jihadi.

6) A sexta razão para a crescente força do Islã é a satisfação indireta sentida por muitos não-muçulmanos pelos reveses da América. Os que sentem tal satisfação podem ser encarados como cavalos de Tróia, uma cavalaria cujo número é legião e que está crescendo. Para alguns, seu princípio - ou anti-princípio - é o de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Outros acreditam que sua recusa de apoio pela guerra com o Islã, se há tal guerra, é honrada. Mas as conseqüências são as mesmas: o avanço do Islã está sendo suportado por muçulmanos e não-muçulmanos juntos.

7) A sétima razão jaz na pobreza moral do próprio sistema de valor do Ocidente, e especialmente da América. Doutrinas de liberdade de mercado, livre escolha e competição - ou "freedom 'n' liberty" - não são páreo para as éticas do Islã e Sharia, goste-se delas ou não. Apesar disso, na "batalha pelos corações e mentes", a Primeira Divisão de Cavalaria dos Estados Unidos achou adequado lançar a "Operação Adam Smith" no Iraque, para ensinar habilidades de mercado, entre outras coisas, a empreendedores locais. Não pode haver vitória aqui. Ou, como disse o xeque Mohammed al-Tabatabi a milhares de adoradores em Bagdá em maio de 2003: "O Ocidente clama por "freedom" e "liberty". O Islã rejeita tal liberdade. A verdadeira liberdade é a obediência a Alá".

8) A indicação seguinte de que o avanço do Islã continuará se assenta no uso hábil da mídia e da "world wide web", a serviço tanto da "jihad eletrônica" quanto da enganação da opinião ocidental, pelos porta-vozes muçulmanos. É também um empreendimento político no qual muçulmanos e não-muçulmanos podem agora ser encontrados agindo em conjunto para aumentar o alcance da visão de mundo do Islã; a ajuda sendo dada por produtores e emissores ocidentais à al-Jazeera é a sua mais notável instância.

9) O nono fator garantindo a marcha do Islã para a frente é a dependência material do Ocidente de recursos materiais de países árabes e muçulmanos. Em abril de 1917, Woodrow Wilson, recomendando ao Congresso dos Estados Unidos uma declaração de guerra contra a Alemanha, podia dizer que "nós não temos fins egoístas a servir". Os níveis de consumo americanos fazem com que tal declaração não seja possível agora. Os Estados Unidos estão, por assim dizer, em cima de um barril. Continuarão assim.

10) Finalmente, o Ocidente está convencido de que suas noções de modernidade impulsionada pela tecnologia e de progresso empurrado pelo mercado são, de maneira inata, superiores aos ideais do "atrasado" Islã. Esta é uma velha ilusão. Em 1899, Winston Churchill afirmou que não havia "força retrógrada mais forte no mundo" que o Islã. Mais de um século mais tarde, é afetuosamente acreditado que material militar sofisticado e defesas do tipo "Star Wars" assegurarão o domínio ocidental nesta guerra, se fôr uma guerra.

Mas, como declarou o "acadêmico" Suleiman al-Omar em junho de 2004: "O Islã está avançando de acordo com um plano firme. A América será destruída". Como estão as coisas, dados os dez fatores aqui delineados, é mais provável que ele esteja certo do que errado.

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