Thursday, August 31, 2006

Deadline

Chegou hoje, 31 de agosto de 2006, finalmente, o deadline, a "linha morta", o prazo final dado pelo CS da ONU, através da Resolução 1696, ao Irã para que abandone seu programa de enriquecimento e conversão de urânio sob pena de sanções (não explicitadas).

O ambiente é propício para mais um aperto, pelo W+ (o grupo, essenciamente fluido, de países ocidentais importantes, isto é, aqueles que são percebidos como potências no sistema mundial, e seus como que congêneres de longitudes diversas), no parafuso de suplício medieval que vem torturando os crânios das autoridades iranianas.

Elas, as autoridades do Irã, dizem que não se incomodam, que o seu regime de Alá é inteiramente soberano, que não se curva a pressões e coisas que tais: pura bazófia! O problema está o tempo todo em suas mentes, sendo avaliado de várias formas, nenhuma, infelizmente, fundamentada na objetiva razão lógica do próprio interesse da população iraniana como um todo; lógica objetiva essa, aliás, jogada no lixo pela ótica messiânica sobrenatural dos aiatolás e de seus ajudantes totalitários.
Na realidade, nada, desde a surrealisata revolução islâmica iraniana de 1979 que alijou Reza Pahlevi do trono, concentrou tanto os corações e mentes das autoridades de Teerã (com exceção da guerra contra o Iraque) que a presente repulsão das W+ contra a ambição do país dos aiatolás de possuir armas nucleares
O presidente Ahmadinejad tornou claro que não se comprometeria no deadline. Disse: "A nação iraniana não sucumbirá à intimidação, à invasão e à violação de seus direitos".
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã descartou a possibilidade de sanções, afirmando na televisão estatal que: "... encontraremos uma forma de finalmente evitar a pressão".
O prazo final foi amplamente lembrado nas manchetes dos principais jornais do país, que teceram variadas considerações sobre o tema.
Washington mantém aberta a possibilidade de agir, com seus aliados, em via própria, fora do caminho traçado pelo CS, e de aplicação de penalidades particulares contra o Irã. (É um dado alvissareiro, considerando a volatilidade do CS.)
Em um discurso dedicado principalmente a questões locais, Ahmadinejad declarou que os inimigos do país estavam tentando fomentar diferenças entre o povo iraniano, mas "Eu lhes digo: vocês estão errados. A nação iraniana está unida."
"Eles dizem apoiar a liberdade, mas apóiam os governos mais tirânicos no mundo, em busca de seus próprios interesses," disse, referindo-se aos EUA.
Continuou: "Eles falam em direitos humanos, mas mantêm as prisões mais notórias. Essas potências que não se atêm às leis de Deus e seguem o mal são a fonte principal de todos os atuais problemas da humanidade."
Essas palavras do presidente do Irã bastam para expor o grau de afastamento da realidade em que vivem os líderes do país.
A recusa iraniana de acatar a exigência do CS de interromper o enriquecimento de urânio será detalhada em um relatório confidencial à AIEA, a ser completado hoje e entregue ao CS. É provável que isso provoque - pelo meio de setembro - a reação dos membros do Conselho de Segurança de começar a considerar sanções econômicas ou políticas.
O Departamento de Estado não disse publicamente o que pretende fazer. Mas autoridades européias e americanas indicaram que podem pressionar pela imposição de restrições de viagens às autoridades iranianas ou de proibiçâo de venda de tecnologia de duplo uso ao Irã.
A tática é de começar com punições relativamente brandas, numa tentativa de conseguir o apoio russo e chinês, disseram funcionários.
Ação mais radical seria o congelamento de ativos iranianos ou uma proibição comercial mais abrangente - se bem que seria forte a oposição a essa alternativa pela Rússia, pela China e por outros países, particularmente porque poderia cortar exportações iranianas de petróleo, de que necessitam muito.
A Rússia e a China devem, provavelmente, resistir aos esforços liderados pelo EUA em prol de uma resposta rápida, cuja conseqüência pode ser uma certa demora no estabelecimento das sanções. Essa possibilidade levou o governo Bush a tentar atrair e convencer aliados a criar sanções comerciais ou restrições financeiras, ou ambas, de sua própria lavra, independentemente do Conselho de Segurança da ONU.
Teerã insiste em que seu único objetivo no esforço de enriquecer urânio se baseia no seu emprego na geração de energia elétrica em usinas nucleares civis. Todavia, os EUA e outros países ocidentais e assemelhados, ou seja, os W+, suspeitam que o Irã deseja utilizar o urânio enriquecido em ogivas nucleares.
(O fato, a realidade fria e objetiva é que o Irã vem administrando um programa nuclear clandestino havia já 18 anos, até ser descoberto em 2003 pela agência de vigilância nuclear da ONU sediada em Viena, a Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA. É de notar que o Irã é signatário do TNP.)
O ministro das relações exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, explicitou suas suspeitas de que o Irã está à procura de armas nucleares, e disse que os governos árabes também estão preocupados com as ambições de Teerã.
"No momento, o Irã não tem qualquer emprego para o urânio enriquecido, a não ser que esteja planejando construir a bomba," disse Steinmeier na edição de hoje do Bild. Ele também criticou o governo iraniano por "... tentar se fazer passar por líder do mundo islâmico. Apesar disso, seus vizinhos árabes, também islâmicos, compartilham nossa preocupação acerca do assunto e nossa rejeição a um Irã com armas nucleares."
Os 6 (os 5 membros permanentes do CS mais a Alemanha) ofereceram ao Irã, algum tempo atrás neste verão do Hemisfério Norte, um pacote de incentivos em troca do compromisso de Teerã de congelar o programa de enriquecimento de urânio, para que as conversações pudessem ter início. Mas a resposta de Teerã a 22 deste mês deixou claro que o país não deseja suspender seu esforço nuclear antes do término das "sérias" negociações que sugeriu.
Sábado passado, Ahmadinejad inaugurou nova fase de um projeto se reator de água pesada em Arak; tal tipo de usina produz plutônio, que também pode ser empregado na fabricação da bomba atômica, outra matéria-prima sendo o urânio com alto grau de enriquecimento.
Observadores dessa questão dizem que a atitude iraniana teve a intenção de mandar um sinal de desafio, antes do escoamento do prazo concedido pelo Conselho de Segurança.
Na inauguração da planta de água pesada Ahmadinejad disse outra vez que o Irã nunca abandonaria seu programa nuclear, mas que seu objetivo não eram armas atômicas.
A novela continua...
O mundo espera atitude decisiva dos EUA e das outras potências comprometidas com a manutenção da segurança global e da civilização como compreendida, grosso modo, pelos membros do definido W+, mesmo à revelia de alguns, como China e Rússia. Estes dois países estão, como tantas vezes estiveram, muito mais preocupados com seus próprios umbigos do que com questão de tamanha importância: a China desesperada por petróleo, de qualquer lugar que possa vir, para tentar manter seus assombrosos índices de crescimento do PIB (insustentáveis); a Rússia, sob o regime enérgico e semiditatorial de Putin, por motivos parecidos e comerciais, a par de seu atual sonho de noite de verão de voltar a ser uma superpotência (o que, com efeito, nunca chegou a ser: tratava-se mais de uma ilusão de ótica).
Nesse caso, certamente os EUA deverão, para ações retaliatórias mais rápidas e assertivas, se ligar firmemente ao chamado EU3 (Alemanha, França e Reino Unido).

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